Anais da V Mostra de Pesquisa - PET FILOSOFIA / UFRN v.3 n.1 2017
Corpo editorial:Prof. Dra. Gisele Amaral dos Santos
Gabriel P. N. Silva Joyce Mayara Pereira da Silva Laura Cavalcante Morais |
A ANÁLISE HABERMASIANA ACERCA DA TÉCNICA GENÉTICA E SUAS IMPLICAÇÕES NA NATUREZA HUMANA
Tiago Xavier (UFRN, PPGFIL)([email protected])
Este trabalho pretende mostrar o posicionamento crítico de Habermas diante da biotecnologia, uma vez que genes podem ser tecnologicamente escolhidos antes da entrada no próprio universo social, sendo isto ameaça para o alicerce da vida social, a igualdade. Por conta disso, o filósofo trará a discussão para a esfera pública, possibilitando a reflexão de uma possível regulamentação frente à técnica genética e suas pretensões para com o ser humano.
AXEL HONNETH E A TERCEIRA LIBERDADE
Gabriel P. N. Silva (UFRN, PPGFIL)([email protected])
O terceiro capítulo da primeira parte de O direito da liberdade, do filósofo alemão Axel Honneth, trata de tentar estabelecer as definições do conceito de liberdade social. Para tanto, o autor remeterá a Hegel que, segundo ele, fora o primeiro da tradição filosófica a pensar tal conceito. Esse conceito, porém, só será estabelecido ou delineado como tal na obra de Honneth em contraposição a outros dois já bem conhecidos na literatura, a saber, o de liberdade negativa, proposto e pensado mais notadamente pelos pensadores do direito natural como Hobbes, e o de liberdade reflexiva que teria sido mais bem trabalhado por autores como Rousseau e Kant. Hegel, contudo, dirá Honneth, tentará tomar outra via postulando a liberdade social como sendo a única liberdade verdadeira e profundamente autêntica. Esse conceito deve ser pensado, segundo Honneth, sob a pressuposição de um reconhecimento recíproco entre os sujeitos da ação, reconhecimento que só pode ocorrer, contudo, se houver instituições que o assegurem, instituições do reconhecimento e da liberdade. O autor, evidentemente, não deixa claro quais seriam essas instituições, esclarecimento que não procuraremos fazer neste trabalho. Nosso objetivo é, em suma, apresentar o conceito de liberdade social, na obra de Honneth, e de que modo ele contribui para a construção de sociedades mais autônomas.
DA CARNE À CARNE
Clayton Rodrigo da Fonsêca Marinho (UFRN, PPGFIL)([email protected])
Gostaria de propor uma possibilidade de reflexão sobre as imagens. Partindo de uma paráfrase de Roland Barthes em A câmara clara, a qual “proporia” dar um corpo à imagem a partir de imagens de corpos. Isso significa duas coisas, pelo menos: que a imagem é um espaço de figuração da singularidade, e que, talvez por via disso, a apresentação lacunar. Buscar imagens de corpos significa colocar em relação a visão com o tato, desdobrar um con-tato para que a imagem “adquira” um corpo. Um trabalho sem fim, um trabalho de/a imaginação, um trabalho concreto igualmente, capaz de permitir experiências sobre as e das e nas imagens que não nos pareciam possíveis, ou porque foi longamente torcida pela tradição, ou porque foi tornada invisível ou inviável por uma desconfiança absoluta. A partir de algumas imagens, poderemos desviar um pouco o debate, fazer aflorar outras possibilidades, inclusive de pensar.
DA PUNIÇÃO À VIGILÂNCIA: A ALMA COMO PRISÃO DO CORPO
Antônio Matheus Lima Bezerra(UFRN, Filosofia)([email protected])
A partir do séc. XVIII o suplício passou a ser rechaçado como meio de punição, o palco começa a ser desmontado, o carrasco sai de cena, o criminoso passa a ser julgado e condenado sem, necessariamente, ter seu corpo violado. Entretanto, se ele sai desse palco, algo terá que substituí-lo, algo mais eficaz. Entra, no lugar dele, então, o processo penal. O carrasco é substituído por um conjunto de especialistas: médicos, psicólogos, psiquiatras, juízes de instrução etc. O que faz então com que o corpo não seja mais objeto de punição? A necessidade de concentrar os esforços do exercício do poder na alma do indivíduo. O controle da alma é mais conceitual, mais particular, um sujeito não é mais somente julgado por seu crime, e sim pelo conjunto da obra: quem é ele, qual sua função, se sua mente é ou não saudável. Como demonstra muito bem o texto de Camus, O estrangeiro, um sujeito pode não mais ser condenado por matar alguém, mas por não ter se consternado no enterro da própria mãe. O regime penal é, então, puro exercício de poder: é a guerra imaginária entre sujeitos com a mente bombardeada contra uma instituição sólida e massacrante.
NOTAS SOBRE A RELAÇÃO ENTRE POTÊNCIA POLÍTICA DA ARTE E PARTILHA DO SENSÍVEL
Priscila Pereira Novais (UFRN, PPGFIL)([email protected])
Dânigui Rênigui Martins de Souza (UFRN, PPGFIL)([email protected]) “Emancipação” e “espectador” são conceitos essenciais na obra do filósofo Jaques Rancière. Analisa-los nos ajudará a compreender as afinidades e fronteiras estabelecidas em torno da relação entre política, ética e estética, mais especificamente no domínio da imagem. Para cumprir ao objetivo que o tema deste trabalho traz, usaremos como principal base teórica os textos: O Espectador Emancipado (2008) e A Partilha do Sensível (2000), além do breve diálogo com a obra O Mestre Ignorante (2004) e algumas entrevistas dadas pelo autor. O escopo deste trabalho está dividido, essencialmente, em duas partes: a primeira trará uma breve apresentação do que é o regime das artes proposto pelo autor na obra A partilha do sensível, e no segundo momento, já conscientes da perspectiva democrática do regime estético das artes, adentraremos no universo do espectador – discussão iniciada em O mestre Ignorante, numa perspectiva mais pedagógica, e sequenciada em O espectador emancipado.
POSSIBILIDADES E IMPOSSIBILIDADES DO TESTEMUNHO EM GIORGIO AGAMBEN
Dânigui Rênigui Martins de Souza (UFRN, PPGFIL)([email protected])
Priscila Pereira Novais (UFRN, PPGFIL)([email protected]) O presente trabalho tem por objeto apontar algumas possibilidades e impossibilidades do testemunho como uma tentativa de resposta ao crescente uso do dispositivo de exceção na era contemporânea. Acreditamos que a literatura produzida nos espaços da exceção é uma fonte rica para análise da condição das pessoas que habitaram um lugar tão extremo como o campo. Possuindo como referencial teórico as análises realizadas por Agamben, visamos discutir as possibilidades e impossibilidades do testemunho tendo como bases os acontecimentos de Auschwitz. Para realizar tal tarefa Agamben utiliza as obras de Primo Levi (ex-prisioneiro de Auschwitz) como matéria prima para sua análise sobre o testemunho. De formal geral nosso trabalho foi dividido em dois momentos. No primeiro momento caracterizaremos o que estamos chamando de dispositivo de exceção, a partir da filosofia política de Giorgio Agamben, para em seguida apresentarmos o testemunho como uma escrita/literatura que representa uma forma de resistência produzindo memórias para as épocas vindouras. Porém, tal escrita/literatura possuem limites que não permitem a compreensão da exceção em sua totalidade. As principais obras que dão orientação ao texto são: o que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha (1998); Estado de Exceção (2003) e Homo Sacer: poder soberano e a vida nua (1995. As três obras fazem parte da série Homo Sacer, desenvolvida pelo filósofo italiano.
SCHOPENHAUER E NIETZSCHE CONTRA O DIAGNÓSTICO HEGELIANO DE INSIGNIFICÂNCIA DA ARTE
Jéssica Barros Silva (UFRN, PPGFIL)([email protected])
Este trabalho busca rebater o diagnóstico hegeliano da arte como algo insignificante que não mais possui a vitalidade e o poder que tinha para os povos antigos de revelar as verdades mais profundas do mundo e de trazer satisfação espiritual, papel que para Hegel na Modernidade fica relegado exclusivamente à reflexão. Através da filosofia de Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzsche, argumentamos que a vitalidade e o poder da arte não diminuíram na arte verdadeira, que é livre ao passo em que não advém da intencionalidade racional do homem, mas da dimensão mais profunda de seu ser, que é irracional. Esta arte, que não se submete à individualidade do artista, nem a quaisquer agendas políticas ou sociais, continua poderosa para revelar-lhes a essência do mundo e do sofrimento humano e oferecer-lhes conforto através da experiência estética, que encontra na música sua modalidade mais poderosa de comoção e promoção do conhecimento da índole da vida.
|